TROTE DE TATÁ

Erick Monteiro
13 min readNov 9, 2021

web-repente

Aos contrastes e às transições inevitáveis das translações astrológicas, dos traumas próprios e do antropoceno e o ostracismo intragável, solitário-intrínseco, o coração trincado, mais loucos que as transitórias transas, triviais atritos ou vantajosas transações, transmitem nesse tresloucado traslado os entraves das traduções chinfrins, caducas, tristes, que subtraímos ou atribuímos sentido, dos julgamentos dos tribunais que nos aprisionam maltrapilhos, maltratados. Mal interpretados. Não precisa contrapor não, eu sei que sou do contra, que nasci ao contrário, não precisa antagonizar, já sou desconfiado, mas presto e presto atenção e tô presente. Não tenho pressa. Sinistro já sou, e tudo também já é. Sinto muito. Eu não tenho resposta ou proposta pronta e nem pretexto ou mesmo propósito, mas dou meus contextos, me abro. Eu fui extraviado, eu fui abduzido. Entre às trevas só, travo atrapalhado, batalhas entravadas inúteis-emprestáveis, transfiguro-me em transe e transbordo em constante trânsito para seguir leve adiante, no trem e no trampo doido que demanda esse tempo atômico-atroz, uma ode ao transloucado elétrico foxtrote transgressor-progressivo, foxtrote não, frevo, tão utópico que distópico, por utópico, esse trote livre, trote não, xote, xaxado, não pode ser só mais um trote da Tatá, antídoto contra os déspotas, mas sim ela, Tatá, Eva, oferencendo-nos o proibido fruto nutrido no segredo indizível dos tratados intratáveis protegidos por proféticos talmúdicos taumaturgos protetores das transmutações divinas, a tragédia e a comédia dinosíaca, esse trevo, a santíssima trindade, só que sem dogma, pré-Socrático, só elo, o eco do intrincável drink do Santo Graal, Taj Mahal, tete teterete tete teterete tete teterete tete.

Poesia se explica?

Li dia desses "o escrever se completa quando alguém lê", na página de um amigo querido que trabalha com livros relevantes, respeitáveis e escritores cheios de respaldos. O problema é que ninguém me lê, ou quando lê, pensa que tô lelé da cuca, entregue ao léu, à deus-dará (Deus é um cara gozador, adora brincadeira). Aí, qual o sentido? Uma amiga-irmã, das poucas que tem paciência para, quando insisto muito e por compaixão, me dar tempo de leitura, me perguntou sobre o texto acima, que chamei de web-repente numa tentativa apologética (eu sempre me vejo tendo que fazer algum tipo de apelo, o que francamente me desgasta) de me justificar fanfarrão, ter uma razão de ser nessa existência, um refrão, mesmo que em frangalhos.

"Não entendi o que você quis dizer"
"Onde você quer chegar?"

Não sei, minha amiga, das poucas que sobrou, que lida com a superfície pontiaguda instável do enorme iceberg que sou, quase todo denso, submerso, construído cada vez mais pra baixo da linha do subconsciente, eu não sei a resposta, não sei se eu entendo ou quero me iludir que entendo que sei o que quero, ou que quero dizer, ou onde quero chegar. Eu acho que esse (sic) web-repente acima é sobre isso. Much ado about nothing, ilusão, perda de tempo, uma nota perdida de rabeca, um brainstorm (em termo executivo), um improviso pobre.

Viver tem matado meu eu-lírico. As trocas subjetivas agora utilitaristas, práticas, todas mediadas por códigos de conduta que matam a espontaneidade, que reprimem o desejo de gritar a loucura que é estar vivo, eu me sinto só e caduco, em surto pirado e só só, na minha aparente loucura consigo me sentir são. O meu eu-lírico não tem ouvintes. Ele não tem ninguém disposto a deixar o brilho, a faísca e o mistério reinar, ecoando misterioso como um koan, ou no meu caso um zoan, uma zoerinha qualquer de humilde bardo em desbunde.

Se fosse T.S. Eliot falando dessa terra desgastada, estéril, infértil sem artifícios, cansada pela produtividade de uma monocultura imposta, todos ouviriam e o achariam brilhante. Quando T.S. Eliot, o americano autoproclamado britânico nato, decidiu subir nos pedestais como cidadão-mór do império, do que então era a Roma de seus dias, e adotou Londres como seu lar (e os maneirismos britânicos), apesar de ter nascido no meio-oeste americano, no "meio do nada", na beira do Mississippi (as vias de ironicamente a capital do Império ser tomada pelos Estados Unidos, ele como cavalo de Tróia). Era sobre o Thames que ele cantava.

Ele, que ganhou em dinheiro-dindin-grana-cash, o prêmio de poesia do ano por The Waste Land, apenas com o aval do amigo Ezra Pound, sem sequer ter sido lido por ninguém para ser avaliado (certo ele, que mané ser avaliado), numa negociação transacional de nobres cavalheiros formados em universidades Ivy leagues. Ele, pomposo membro da elite de Boston, os (ria) Boston Brahmin, educado em Harvard. Ainda assim não era o suficiente, para ele, ser da Colônia (mesmo sendo esta a bem sucedida colônia americana), e ele precisou virar Inglês para Inglês-ver e ir lá defender a invasão Americana em Oxford. Engraçado porque no meu caso de nordestino imigrando para o sudeste e depois de brasileiro imigrando para os Estados Unidos, me sinto uma espécie de Eliot periférico-vira-lata, e me pergunto, às vezes, revirado pelo avesso, com orgulho e a bunda virada pra lua, se tem algo mais brasileiro que isso.

Vejo meus promissores amigos zukas (e de outras ex-colônias lusófonas) a ocupar Lisboa (não pode falar ocupando não, viu?), onde os jovens portugueses se foram em êxito lavar banheiro de inglês, ficando Portugal ao relento, delegado terra de velhos crus e caducos, os zukas a recolonizar (bem feito!) a Colônia em meio a xenofobia chinfrim dos tugas. Porra tugas, tão malucos? Faz até graça coisa dessas, vocês acham que somos frutos e descendentes da política desastrosa de quem? Eu tenho direito à Portugal, apesar da herança ser modesta. Olha o tamanhíco de vocês, somos praticamente 270 milhões de falantes do Português, e vocês, que não fazem 10 milhões, exportam seus jovens para países em que falarão mal o francês ou inglês, querem ser os bastiões do quê, se não sobrou nem gente? Acorda pai, que a mãe cê já matou no seio próprio do lar e teus filhos bastardos estão a te cuidar no exílio que é o seu asilo.

De qualquer forma, se fosse Eliot com os ecos incompreensíveis de seus fragmentos incongruentes diversos, oníricos recortes de clássicos , falando alemão ou grego, caduco que só, esnobe, soberbo, de pretenções tão mais ambiciosas, a autoconfiança que só quem tem audácia tem, a soberba detestável dos que ousam se afirmar e foda-se quem não entendeu. Se fosse Eliot, explicar seria crime, já que ele é canônico, e mesmo sendo crime, temos ai a briga pelas interpretações sobre a sua obra, pós-modernistas versus os New Critics conservadores (como o próprio Eliot), cada um querendo afirmar uma narrativa, ler borra de café na xícara apesar do aviso jocoso ao leitor hipócrita!

If you see dear Mrs. Equitone,
tell her I bring the horoscope myself:
One must be so careful these days.

Querem prender o passarinho (sinto muito, Mário. [Que Mário? o que te comeu atrás do armário] Brinks: Quintana).Eu não tenho essa personalidade da Maísa - "meu querido eu sou cantora", eu sou apenas um rapaz latino americano, mostrando como sou e sendo como posso.

A morte do meu eu-lírico parece um requisito muito claro para que seja aceito em sociedade ou compreendido, isso me parece muito claro, mas o eu-lírico dos outros (que ousam) está vivo e passa bem ,obrigado. Então, esou ousado. Existe lugar para minha subjetividade fora de mim? Sem que seja aqui dentro, enclausurado e depois no território dos sonhos, da minha imaginação, do metaverso em expansão para dentro (o infinito-pra-dentro) que eu criei em mim e para qual me mudo aos poucos?

Me pego louco doente e só assim lúcido, para os outros, ingênuo, tolo, bobo. Qual o sentido e qual o ponto, se eu não tenho agenda? Não tenho pretexto ou objetivo, já disse acima. Então vamos lá, explicar a poesia para quem a achou aleatória e que nada dizia ("não sei avaliar poesia"), para que eu não morra carregando comigo o fardo do segredo do mundo de que não há segredo (tchanrã!).

Apesar de saber que é inevitável, que é tentativa inútil, vamos lá... É vertigem, rápida e nervosa sim amiga, e é verdade também que ela só funciona como brincadeira, que esse escrito acima não quer dizer nada. Não tem dogma não, e nem segredo:

Muito mais que as paixões e conflitos mundanos, que os ganhos da vida, estão os estragos dos traumas espaçados pelo tempo que torna tudo sonho, passado inventado, memória falha, ficcional, tudo delegado a nada além da solidão que é estar vivo por trás das retinas como testemunha-muda, que sufoca um grito silencioso, sem contexto, tipo o grito do Munch, entalado com tudo o que vivemos e não conseguimos exprimir sem a perda de sentido própria de talhar as palavras como quem lapida uma chave que abre uma fechadura. Minha palavra-mágica, caduca, abracadabra abrindo nada, vazia, inútil para quem não sabe e não quer ouvir, ávido para domesticar e diminuir a experiência alheia, enlatar, objetificar, colocar o outro em caixinhas manuseáveis, seguras, em pequenas matrioskas, cada vez mais hermético, preso dentro de si, trancado à 7 chaves. Depois chamam a caixinha de Pandora e dizem que lá mora todo o mal. Isso que eu chamo de iceberg ou ostracismo, sei lá qual a analogia apropriada.

Dá para me entender, agora? Que nessa vida a gente nasce número primo, e tudo é muito sinistro. Eu nasci canhoto, sinistro é canhoto, coisa de bruxa, de herege, de gente jogada na fogueira da inquisição, tudo para mim é ao contrário e existem várias teorias sobre o caos e o lado direito do cérebro. Pô, usa o google, tenta perguntar se não há nada por trás de mim do que meu invólucro de maluco, não pode ser que eu seja assim tão desinteressante ao ponto de ser uma pergunta ignorada, deixada em branco, sem teoria nenhuma. Pelo menos merecem atenção as palavras, que não são minha, põe sinistro no priberam. Pensa na esquerda no espectro político, sei lá. São tantas as analogias possíveis que me escapam e transpassam.

Não é que eu queira chegar em lugar nenhum, amiga, o arroto de condescêndencia da vida sopra na minha cara, mas eu aprendi a tocar em porra, vômito e xorume. Pau que nasce torto, nunca se endireita. Nasci coxo na vida. Gauche, e não me chamo Carlos e nem Raimundo. Eu sou o anônimo relegado às margens do mundo, nevagando apenas em pensamento e na pilha de louça e bolhas de sabão na pia da cozinha. Meus dilemas, minhas dores, as dores do mundo que eu não consigo esquecer, a compaixão, o sentir junto, esse gozar no nirvana sadomasoquista das chagas de Cristo, o judeu que legitimou e matou o judaísmo no mundo. O filho que matou o pai como ápice do complexo de Édipo, e ainda o chamou de espírito santo. Vão-se os dedos e ficam os anéis a decorar com relíquias, o Calvário.

Das chagas, a cravada no peito, a pior delas, mãos e pés atados a Santa cruz. Que pesado carregar essa cruz, ou ser confundido com a imagem do sudário de Turim, do Jesus branco-germânico, só reconhecido depois de morto pela piedade de Verônica, porém completamente desfigurado, enfeitado, restaurado como o Jesus-batata pelas mãos doces e ingênuas da amadora Cecilia Jiménez (esse merece o google, eim?). Ali, impotente, ridículo, paralizado por Górgona, mumificado, memeficado, apropriado por outros e desapropriado de mim mesmo, expulso da minha própria imagem projetada. Em exílio de meu próprio corpo, necrosado. Dá para me entender agora, amiga?

Por quê Tatá? Porquê tá-tá-tapioca. Tá difícil. Tudo é tão absurdo, que só transbordando, só antecipando inevitável, abraçando a condição de perecer, porque perecendo, passamos além. Não sou eu quem digo, foi Jung. Eu também sou partes e recortes apenas. Mas pra falar pra quem? Ninguém fala grego, nem tem tempo para mais de 140 caracteres. É tempo-imagem, e logo, nem isso. Falar para quem ouvir e quem cedifrar? Os escolásticos modernos que carregam nas unhas afiadas o pequeno rato vivo, presa fácil de sufismos? Para quem, me legitimar? A quem eu dou esse poder? Não sei se tô afim de firmar acordos, fazer pactos com diabos. O déspota é o último dos subordinados, ele só não sabe.

"Entender uma coisa é ponte e possibilidade de voltar ao trilho. Mas explicar uma coisa é arbitrariedade e às vezes até assassinato. Contaste os assassinos entre eruditos?"

Amiga, Marília Mendonça morreu. Quem é Marília pro mundo anglófono ou mesmo em Mandarin? Eu mesmo, conhecia mas não ouvia Marília. Por quê eu não a ouvia? Quantas vozes de vidas sileciosas e anônimas cabem nas composições de Marília? Quantos traumas e sentimento gerados por uma cultura pós-colonial, com gênero (feminejo), lugar e endereço, dores privadas tornadas coletivas, em massa, no manto de abraço que é o canto de mutidões, palavras cantadas, conjuradas em transe, de gente a chegar no centro de seus labirintos, se achando por dentro, catando os cacos e fazendo um barco com os pedaços dos eus-líricos quebrantados, antes silenciados, partidos, fazendo um bote salva-vidas para navegar, alçar as levas e se lançar aos ventos na direção que aponta a bússula do canto de Marília, que é saber de si e pra onde, mesmo que seja só por agora.

Não sei onde me situo entre popular e o erudito, essa minha vida solitária privada, cheia de privações e sacrifícios pessoais, minha escolha diária de ignorar todos os outros caminhos que não tomei… Essa vida tão privilegiada que é um sacrilégio esse cuspe que dou no prato que como. Chamo isso de pecar contra o divino e sofro também da culpa. Como não consigo escapar, entre a retórica sofista e o surfista eu prefiro me jogar, sufi, ao mar e deixar ele levar. Boiar talvez, boiando eu já tô. (Olha a onda, olha a onda!) Sendo levado louco ao léu, e ai só sobra mesmo o riso surrealista dos olhares vidrados e oblíquos de Tatá passando trote, fazendo rir assim do nada, feito bobo, tolo. Os upanishads, citados em The Waste Land, acabam no shanti shanti shanti e na compaixão, autocontrole e caridade expressas no seu Da! Da! Da! E tudo o que consigo lembrar, amiga, é naquela música popular, aquele brega, pré-brega-funk de quando a gente morava no Janga (mas poderia ser Jampa, ou no ABC paulista), num perímetro qualquer de qualquer centro, que dizia:

– Dá! Dá! Dá! (e era respondida:)
– Não dou, não dou, não dou, não dou!

Não tá dando para dar. E dizem às alegorias que por não saber dar, a gente volta nos ciclos de reencarnação para repetir sadomasoquistas o aprendizado, tomar, levar na cara.

Ninguém quer o que tenho a oferecer. E tô dando de graça. Ninguém liga e não é pessoal, não é sobre mim ou sobre você, as pessoas têm seus próprios problemas e interesse e nós não somos nenhum deles. As pessoas não pensam na gente o suficente para nos rejeitarem, para se afetarem de qualquer forma que seja, para sentir mágoas ou saudades, para perder tempo nos dando tempo, e em contrapartidas, nós, que de bestas não temos nada, vamos retirando nossos exércitos, tirando o cavalinho da chuva, coitado.

Tirando, aos pouqinhos peça por peça do armário. Essa retirada silenciosa, bandeira branca, protesto tácito, greve de fome, jejúm ascético, ninguém nem percebe, ou liga. E a gente definha, vai sobrando só o que a gente vai dando, distribuindo por aí como brindes, e você pensa que cavalo dado não se olham os dentes? Esse mundo é exigente e desconfiado. Imagina presente de um papai Noel mendigo? É tipo distribuir panfleto — Não, imagina! Leva, fica! Como se não fosse nada, e por não parecer nada, vai ao lixo na primeira esquina. Sabe o constrangimento daquele poeta universitário, te dando poesia ruim, pedindo umas moedas em troca? Repentista em ônibus lotado, incomodando o trajeto.

E para não definhar no asceticismo dos afetos, me embebedo e me esbaldo, em autoindulgência, em pena. Noutro tipo de compensação, em escapismo, autoisolamento celibato, para dar um aloha, um namasté, ou namasteta mesmo, para as desatenções do mundo produtivo, rejeições e ostracismos. De certa forma austera, não parece, mas nos convertemos em eremitas moribundos nos caminhos solitários da introspecção, dos abismos por onde andamos absortos com a rosa branca na mão, e a companhia de nossos amigos caninos, gatunos no meu caso de quem abraçou a solidão, preservando a pureza ingenua dos sonhos. Tentando se livrar da culpa de não sermos amados quando somos tão amáveis. É incompreensível o que isso faz; ter fome e dizer, não obrigado. Querer e não ter.

Eu tenho a pólvora
e a seguro nas palmas
guardião do pó
pirilimpimpim
guardião
da pólvora
o peso nas espaldas
da pólvora
não sinto nem a faísca
o mundo não precisa
de pólvora
tudo bem não querer nada
ou quase nada

Frágil frade, naif, fraude que sou, na próxima vida eu venho autista, porque artista não deu. Não sei se sou gênio incompreendido ou ingênuo, de qualquer forma não deu, já cortei minhas orelhas. De que serve minha existência e meu testemunho, oh, Deus! Minhas orações na Capela Perigosa, se vou levar tudo para o túmulo, se voltarei ao pó. Se sou mau, foi mal e é sem querer. A mesquinhez de dar amor por conta-gotas, talvez para mitigar fleumático a força arrebatadora que pararia essa pelea loca, esse litigar. Quem não trabalha tem que se prostituir e a prostituição é um trabalho árduo, um salve para as putas. Estou a desengajar, em retirada. Ouvindo a música popular brasileira, de Caetano à Marília, a poesia do Brasil é cantada. Sofrida. Sorrida. Carnavalizada?

Dá pra entender agora, amiga?

Que o que sobra é a dança e o riso, e que o vira-lata, esse fragmento incongruente que somos nós brasileiros, é sempre o último a ser adotado, então ele precisa aprender a se virar nas ruas, pedir e dar esmolas, esconder as sacolas. E a gente dança a música que tocar, sabe o foxtrote, esse avexamento afrontoso da valsa? A gente dança se tocar, mas eu não esqueço o brega, o forró e o axé, e o reafirmo junto ao riso, das memórias de confetes e serpentinas das ladeiras de Olinda e suas manhãs de carnaval.

O riso, esse vilão vil perseguido, relegado à exclusão das obras apócrifas, escritas por mulheres amáveis, putas, e no livro perdido de Aristóteles, ele é tudo o que sobra e vai além, o veneno e a própria cura. A heresia divina! Nada pode ser levado tão a sério, nada. O fruto proibido desse conhecismo omnisciente inútil — só sei que nada sei — Socrático, sagrado, espuma dos desejos, na raiva febril expurgada com horror pelos inquisitores na literatura de García Marquez, daquela outra América Latina separada pelo longo muro dos Andes e que espelha à nossa. Seguimos assim uns para os outros; paralelos, desconhecidos.

O fruto proibido do riso (e do pranto) escondido pelo domo invisível, o véu transparente e fino dos filósofos que tentam fazer reluzir e reduzir em quinquilharias mesquinhas, em brilho de confete, à luz que incide e transpassa como éter. Os filósofos a protegem encriptadas em livros empoeirados, palimpsestos reescritos por velhos-sábios defuntos, o diálogo vivo dos mortos, os talmuds desse tempo que é o de todos os tempos, em que nós vivemos e morremos (with a little patience), resquícios em papiro, e depois dizem que sou eu quem piro, mas tá lá, eu vi! Vivas apenas em solilóquos, nas conversas com Deus.

Eu vi, eureka! O som dessa rabeca. O canto xamânico dos operadores de milagres, os taumaturgos que cantam (ora, pois) à vida (é) breve e o tempo urge, e o leão ruge, e para que sigamos ungidos via dolorosa, se faz necessária a teurgia; abrir os sentidos à telepatia; contatos alienígenas; ouvir vozes. Repente sim, porque a vida é de repente e o tal Santo Graal, esse pagão apropriado como relíquia católica é apenas placebo. O que importa é crer, no quê? Sei lá, no quê? (Entende amiga? Então, nem eu). No carnaval?

Taj Mahal, tete teterete tete teterete tete tete teterete tete.

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás

Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Desse amor

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